terça-feira, 7 de setembro de 2010

Time Lord 時間の主(じかんのあるじ)


Absorto em pensamentos ansiosos(e até tristes) sobre o futuro, que me atormentavam e sufocavam a minha respiração, súbito tive um lampejo. Em primeira instância, lembrei-me de que o Mal nunca será superior ao Bem, tampouco maior do que minha fé na vida.
E lembrei-me de que não existe Destino. Nós fazemos a nossa própria sorte.
E isso é algo extremamente simples se pensarmos no princípio da causalidade; o Universo pende sobre ação-reação.
Perdemo-nos, por conta dos pensamentos envenenados por ansiedade e outros males, julgando o futuro ser tenebroso, e o passado melhor do que foi, quando na verdade o fluxo da vida é o contrário.
Sua Santidade, o Dalai Lama, já versou sobre nossa atitude mental. Ela determina muitas coisas em nossas vidas.
Se nos detivermos em visões negativas e pré-concebidas sobre o futuro, ele será exatamente daquela maneira. Se criamos o futuro no presente, por que não edificar algo bom? Ao pensar coisas positivas, apagando aquela visão ruim que criou anteriormente, você reconstrói, molda um futuro melhor. As possibilidades são muitas, cabe a nós escolher.
Ao me lembrar da vastidão do caminho, recuperei minha respiração. E retornei ao presente, recobrando a lucidez ao me concentrar somente no ar que entrava e saía de meus pulmões. Decidi viver um dia por vez, mudando o meu futuro, sendo o senhor do meu tempo. Eu tenho essa ousadia. Tenho meu livre arbítrio e sou responsável por minhas ações.
É óbvio que não sou completamente despreocupado com o futuro, pois faço planos e tenho sonhos, desejos... mas não serei guiado por eles, consumido pelo fogo das paixões.

"Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver."
Sua Santidade, o Dalai Lama

Ouvindo Mantra of Mahakala

sábado, 7 de agosto de 2010

Impermanence 無常


Como uma onda no Mar(Zen-surfismo)

Nada do que foi será
De novo do jeito que já foi um dia
Tudo passa
Tudo sempre passará

A vida vem em ondas
Como um mar
Num indo e vindo infinito

Tudo que se vê não é
Igual ao que a gente
Viu há um segundo
Tudo muda o tempo todo
No mundo

Não adianta fugir
Nem mentir
Pra si mesmo agora
Há tanta vida lá fora
Aqui dentro sempre
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar

Nada do que foi será
De novo do jeito
Que já foi um dia
Tudo passa
Tudo sempre passará

A vida vem em ondas
Como um mar
Num indo e vindo infinito

Tudo que se vê não é
Igual ao que a gente
Viu há um segundo
Tudo muda o tempo todo
No mundo

Não adianta fugir
Nem mentir pra si mesmo agora
Há tanta vida lá fora
Aqui dentro sempre

Como uma onda no mar.


Tudo aquilo que existe está sujeito à transformação. Você, caro leitor, já não é a mesma pessoa que começou a ler este post.
A Natureza nos dá o exemplo. Da teoria da evolução aos seus mínimos ciclos, como a crisálida se tornando uma bela borboleta, a água em seu curso da nascente pelo rio até o mar, as quatro estações do ano... tudo ao nosso redor está em constante transformação, regeneração, mudança; e nada que possamos fazer é capaz de mudar este processo.



A mudança é benéfica, produtiva. Sem ela não haveria vida, não haveria evolução em todo e qualquer campo - principalmente o espiritual.
Seguir o Caminho e empenhar-se em ser o Caminho. Em aceitar a impermanência, ser a mudança. Tentar ir contra esse fluxo natural das coisas é sofrer. É permanecer no Samsara por manter seus olhos cerrados, sem querer abri-los para a realidade ao nosso redor. Não é fácil mudar, mas é possível. Fechar-se em sua concha, sua zona de conforto, seu mundinho exato... não adianta. Sei que falar é fácil, mas eu mesmo me empenho em me adaptar às mudanças - e pela minha própria experiência eu digo, se eu tentasse ir contra elas, teria sofrido, inconstante que foram meus passos na vida até hoje.
Mudanças podem causar dor, e normalmente causam. Mas se a dor é inevitável, sofrimento é opcional; repito, lutar contra mudanças é querer parar o movimento da vida com as mãos nuas. A mutabilidade do Universo é muito maior do que nós.
E a beleza da vida é justamente essa alternância. Passamos a dar muito mais valor às coisas quando aceitamos que elas mudam - você não olharia uma paisagem com mais apreço ao saber que ela é passageira?



Namaste


Ouvindo Lulu Santos e Caetano Veloso - Como uma onda no mar

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A chuva, a Lua e os pássaros 雨と氷輪と鳥類


Para Holmes

Poucas coisas nessa vida me acalmam os ânimos mais do que o som da chuva - e até mesmo sentir as gotas em minha face em uma tarde primaveril. Nossa cultura cotidiana amaldiçoa aquilo que é uma bênção da natureza - limpa o ar, renova o solo, desgasta a pedra, altera o relevo - a tal da impermanência. Quem não gosta do som da chuva para dormir? Estimula-me a preguiça até, mas porque seja esse meu vício, e não por ser algo ruim!
E a Lua... quantos poetas e outros artífices deste Mundo não foram inspirados por ela? Não vou aqui transgredir os limites da literatura explicando cientificamente o que ela é. Sei que fascina povos nativos, e não à toa eles lhe atribuíram significados mágicos, místicos, sagrados. Acredito que cada um que ler estas minhas palavras vai sentir de maneira diferente o que a Lua significa para si mesmo. Ela é daqueles objetos do imaginário muito particular de cada um. Mas não conheci, nesses meus 26 anos, alguém que não gostasse dela.
Pássaros... outro assunto recorrente na literatura. Na cultura japonesa, que particularmente aprecio, são respeitados e amplamente cultuados. Aparecem em diversas histórias... e quem nunca fez uma cegonha de Origami?
A mim, passam a sensação de liberdade. O vento tocando a face, o céu por amplo caminho a se desdobrar diante dos olhos... a humanidade sonha com essa liberdade desde o mito de Ícaro. Duvido que você, leitor, nunca tenha sonhado por um momento que seja com a habilidade de voar.
"O vulgo não vê o óbvio". Por isso a humanidade procura a felicidade e a beleza em feitos grandiosos, quando ela pode estar nas coisas mais simples.
Dei 3 exemplos de coisas para se apreciar, e há os que dirão que sou tendencioso por ser ambientalista convicto. Mas existem muitas coisas mais belas para se ver. Se souber de mais alguma, compartilhe aqui! Será muito bem vindo, sem sombra de dúvida!

Namaste!

Ouvindo Gonnie Louie Elements - Water and the Rain

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Of the kind-hearted ones 惇厚 (とんこう)

Blog completamente remodelado, fazendo jus ao princípio da impermanência de que falava o mestre. Daqui em diante, não só contos, mas fatos do dia-a-dia com alguma reflexão. Dêem seus pitacos, critiquem, comentem! Será um prazer dividir com vocês o caminho.
ॐNamasteॐ


Em uma de minhas andanças até o local onde estudo, me deparei com uma cena - no mínimo - comovente. Eis aqui o meu relato sobre o que é a simplicidade do amor entre pais, filhos, irmãos. E de como não devemos julgar pela aparência e/ou cultura.
Era um casal simples, daqueles que não saltariam aos olhos na multidão.
Ela, o cabelo loiro pintado com tintura barata. Fora de forma pela falta de cuidado após ter dois filhos, talvez. Talvez por falta de dinheiro, de tempo, de conhecimento.
Ele, tatuagem no antebraço, camisa de time, um boné surrado.
Nos dois rostos, um só sorriso. Aconchegados confortavelmente em seus braços, brincando - os filhos.
Duas crianças gargalhavam enquanto o trem seguia viagem. A menina, pouco mais de um ano, cambaleava com o sacolejar característico do vagão. O menino, um pouco mais velho, era mais ágil. Brincavam.
Trocaram de colo algumas vezes, ora ela no colo da mãe, ora ele também - e o pai sempre segurava com carinho um dos dois.
Súbito, a pequenina sem querer machuca o irmão com o brinquedo que levava na mão.

Aqui faço uma pausa.

Naquele lugar simples, de gente com pouca Educação, péssimas condições e supostamente aquele humor de quem vive no sofrimento, você esperaria berros, violência, choro esbaforido, incontido... pois é, não julgue.



A menina, tímida, vê que machucou o irmãozinho. Mas ela não sabe falar ainda.
A mãe, com ternura, faz as vezes da sua voz, dizendo "Me desculpa... é que eu sou desajeitada."
O menino, ainda massageando com a mão tão pequena o corpo dolorido, de repente deixa de lado o que aconteceu e abraça longamente a irmã.
Naquele perdão silencioso, um gesto simplório... havia muito mais do que um pedido de desculpas. Havia o amor entre dois irmãos que se comunicavam à maneira das crianças, muitas vezes mais eloqüentes do que nós, que nos esquecemos talvez da pureza que carregávamos nessa época em nosso semblante.
Os pais? Serenos, avisaram que havia chegado a hora de descer. O pai pega a menina no colo, o menino espera pacientemente a mãe arrumar a bolsa e guardar o brinquedo da menina, e só então estende os braços para abraçá-la e saírem do trem.
Sorri, maravilhado. E fui abençoado com uma dádiva rara: aquele ser que mal andava e mal falava, me sorriu de volta e disse tudo. Seu pai, orgulhoso, diz: "Dá tchau pro moço, filha".
E ela acena, saindo do trem segura pelos braços do pai, até me perder de vista.

Nem sempre títulos, anos de estudo e conforto financeiro significam amor, paz, prosperidade. Aquele casal tão pobre, de uma região afastada da cidade de São Paulo, me ensinou que o amor entre pais e filhos, entre irmãos, e a educação adquirida durante a criação são independentes do quanto se ganhe, do quanto se estude, de que música se ouça, de quantas vezes você já viajou para fora do país ou algo do gênero. Vivemos em um Mundo onde esqueceu-se da busca da sabedoria, e onde as pessoas desenvolvem seu intelecto, o que sem dúvida é importante; mas se esquecem de que inteligência sem sabedoria é arrogância. O amor daqueles pais e a simplicidade daquelas crianças iluminou o meu dia. Aprendi mais um pouco sobre como julgar o menos possível - almejando um dia não julgar mais.

domingo, 18 de julho de 2010

Never alone on the pathway



Republicando um poema dedicado àqueles que curam minhas feridas, me fortalecem quando minha força falha, que me dão a mão quando o pé resvala e quando saio vitorioso de uma batalha, de braços abertos num abraço me congratulam. Os amigos são os maiores presentes que Deus poderia ter me dado - e tenho de agradecê-Lo todos os dias por eles.

"Amigo dileto das horas incertas
Dos braços que acolhem
Das portas abertas
Dos risos tão soltos
Das mãos extendidas
Tu és como poucos
E vem de outras vidas
Mudou meu caminho
Partilha meus passos
Não ando sozinho
No vasto caminho
Da estrada da vida,
Feliz, sem medida."


Fiz em homenagem a alguns poucos amigos - especiais.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

The Firmament wanderer 天空の流浪人



A pedidos ressuscitando o blog com um dos contos curtos que mais gostei de escrever :)

Deitado na relva. Macia, com aquele cheiro de verde característico.
A noite era agradável, nem quente nem fria. O sereno era fresco e tornaria-se orvalho pela manhã. Era assim, as coisas se transformavam, inevitável causalidade.
Fitava o tapete do céu, forrado de estrelas, com os braços cruzados por trás da cabeça e as pernas uma por cima da outra. O peito nu, os pés descobertos naquela displicência sem tamanho e surda dos alarmes alheios.
Contemplava aquele espetáculo sutil que se desenrolava à sua frente. O vento remexia seus cabelos, longos, retorcidos por uma traquinagem da natureza em pequenas ondulações que agora faziam cócegas em seu rosto, debruçadas risonhas sobre seu nariz, seus olhos, seu próprio sorriso.
Imaginava figuras formadas pela ligação daqueles milhares de pontos. Formas sutis advindas da sua mente, eterna viajora. Seus olhos refletiam o brilho das estrelas, absorviam-no, agregavam-no na substância incomum que o preenchia por completo.
Sentia agora como se flutuasse por entre os astros. Via tudo à sua volta com a curiosidade de uma criança pequena, sedenta por tudo apreender daquilo ao seu redor.
Nebulosas, cometas, formas nunca descritas por nenhuma ciência humana... passava por todas elas em sua caminhada pelo espaço.
Súbito, compreendeu. Era infinito o caminho. Sendo assim, jamais deixaria de palmilhar a estrada celestial, tocar aquele chão com os pés nus do jovem desencanado que era. O espaço, enfim, não era vazio, mas povoado das mais inacreditáveis possibilidades.
Maravilhado, fechou os olhos, e agora contemplava novamente o céu deitado na grama macia. E guardou para seus sonhos a imagem da última constelação que avistou antes de cair no sono. Quando acordasse no dia seguinte, lembraria da viagem que fizera leve como nunca, de todo aquele brilho que tinha som de riso e ar de menina desenhada pelo coração como num jogo de ligar os pontos com as estrelas do céu...

Ouvindo Pure Spirits of the Forest - Avatar Original Soundtrack

sábado, 22 de maio de 2010

Bushido 武士道 - O que aprendi com "O Último Samurai"

"The perfect blossom is a rare thing. You could spend your life looking
for one, and it would not be a wasted life." Katsumoto-dono, in "The Last Samurai".

"A flor perfeita é uma coisa rara. Você poderia passar sua vida inteira procurando por uma, e não seria uma vida desperdiçada." Katsumoto-dono, in "O Último Samurai"


Demorei muito tempo para compreender essas palavras em sua plenitude.

"O Último Samurai", embora seja uma visão romântica dos Samurais(estes, pela história "oficial", eram inimigos da modernização do Japão do século XIX), é um filme tocante, feito com muito cuidado e reverência. Em um mundo hollywoodiano que prega os valores ocidentais, ele ousa resgatar a nobreza, orgulho e disciplina dos japoneses. E isso é algo inspirador.
Mostra como um homem pode errar a vida inteira, e ter uma chance de recuperar sua honra. Depurar-se, melhorar-se, desapegar-se e lutar por aquilo que vale a pena de verdade.
A palavra "samurai", de acordo com o filme e com as histórias que já li, significa "servir". Isto não se limita à servir ao Imperador ou à nação japonesa. É uma reverência profunda pela vida e pela natureza(talvez em parte advinda do Xintoísmo), vendo em tudo uma oportunidade de aprender.
Seguiam um código de conduta rígido e profundamente espiritual, o Bushido(influenciado pelo Budismo, Xintoísmo e Confucionismo).
Mas o que é exatamente o Bushido? O que é viver cada momento aceitando a morte, por exemplo? Por que um samurai não faz promessas? Por que motivo é tão desapegado e ao mesmo tempo orgulhoso?
Por muito tempo eu me perguntei tudo isso. E mesmo quando vi este filme no cinema, não estava pronto para entender essas questões. E talvez não esteja, se quiser senti-las profundamente na alma, afinal, sabedoria vem somente com o tempo e para aqueles que estão ocupados demais para buscá-la.
Tentarei responder em parte com as sete virtudes do Bushido:

GI (em japonês: 義) - Justiça e Moralidade, Atitude direta, razão correta, decidir sem hesitar;
YUU (em japonês: 勇) - Coragem, Bravura heróica.
JIN (em japonês: 仁) - Compaixão, Benevolência.
REI (em japonês: 礼) - Polidez e Cortesia, Amabilidade.
MAKOTO (em japonês: 誠) - Sinceridade, Veracidade total.
MEIYO (em japonês: 誉) - Honra, Glória;
CHUU (em japonês: 忠) - Dever e Lealdade.

Um samurai vive a cada momento aceitando a morte porque é corajoso e sabe que pode ser o seu último. Somente quem está pronto para morrer está pronto para viver. Dessa maneira, age com compaixão e benevolência, polidez, cortesia e amabilidade, porque sabe que pode não ter outra chance de tratar bem as pessoas ao seu redor.
Um samurai não faz promessas porque reconhece seu dever e é leal a ele. Ele não precisa dar garantias de sua palavra, pois pesa suas ações e é responsável por elas - portanto tudo o que fala tem valor de promessa.
É verdadeiro, pois a mentira o desviaria de seu caminho de retidão, distorceria sua palavra, coloca em dúvida sua honra.
Sendo um guerreiro que tem muito a defender, tem de ser justo, racional e direto, pois muita coisa depende de suas ações - pelas quais, repito, é plenamente responsável.
Não é um caminho fácil. É um caminho de retidão e auto sacrifício. É reverenciar a vida e servi-la. É procurar fazer tudo com a máxima perfeição. Aos 26 anos talvez eu compreenda uma pequena parcela do que ele seja, o admire e julgue correto, me esforçando por segui-lo da melhor maneira possível de acordo com meu estágio evolutivo.
O que posso fazer, então, é fechar este post refletindo justamente sobre isso, com uma citação do maior samurai da história do Japão, Miyamoto Musashi:

"Os homens devem moldar seu caminho. A partir do momento em que você vir o caminho em tudo o que fizer, você se tornará o caminho."
Miyamoto Musashi, in "O Livro dos Cinco Anéis"





Ouvindo Hans Zimmer - A Way of life(Last Samurai Original Soundtrack)

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Essence 精髄(せいずい )


Quando a maior das nobrezas de um homem torna-se sua ruína,
Sua perdição, seu desgaste, seu maior pesadelo,
Podem as flores ressuscitar a glória
Deste andarilho perdido e repleto de mágoas?
Podem elas derreter como cera da vela cada pedacinho pútrido
Da essência deste homem?

Ou será que, num mundo sem glórias, não há saída senão
Manter-se numa ardente trilha de sangue,
Este guerreiro repleto de histórias, mentiras e paixões entranhadas
Em cada gota rubra e morna?

"Em um mundo onde o aço pode sobrepujar a honra,
A História é escrita pelos vitoriosos,
Estudada pelos derrotados e esquecida pelos rebeldes",
E somente ele próprio poderá trilhar seu caminho...

Pelas flores...

...ou pelo sangue.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Choices 選択肢(せんたくし )


O tempo é mesmo uma coisa curiosa.
Em uma jornada arqueológica em busca de carteados e um poncho, revi fotos, objetos antigos e empoeirados, a vida encaixotada.
Se me dissessem à alguns anos que os C., meu antigo grupos de amigos, tomaria rumos tão distintos... eu não acreditaria.
M. iria para os Estados Unidos e ficaria por lá. X. se casaria com K, se divorciaria por ter um filho com K2, ex namorada de S., que sumiria depois de tamanha traição. Y. sumiria e pararia até de ligar sempre pedindo alguma coisa. L. engravidaria. T. começaria a namorar ainda nos tempos da Lan House e hoje em dia estaria solteiro. Eu mudaria de bairro bagunçando completamente a minha vida, e me distanciando de todas essas pessoas de uma maneira ou de outra.
Deixaríamos de ir para aquela cidade no Litoral que enxugou tantas lágrimas nossas.
Se dissessem que um de meus melhores amigos, X., acabaria da maneira que está... e que F., outro dos meus melhores amigos, sumiria...
Eu não acreditaria em tudo isso. Mas também não acreditaria que iria encontrar a felicidade nos braços daquela por quem eu torcia o pescoço na faculdade que eu achava que iria terminar, antes de todas aquelas decisões complicadas e escolhas erradas que fiz na vida. Mas do lodo nasce a Lótus, não é mesmo?
Acho que todos fazemos escolhas erradas. E elas sempre afetam aqueles à nossa volta, mas principalmente a nós mesmos. Pois somos todos interdependentes, a grande rede de Indra, a causalidade. E esse grupo ter se desmanchado mostra como é verdadeiro o princípio da impermanência. Tudo o que existe está sujeito à transformação.
Seria triste, então, esse princípio? Vou deixar as pessoas queridas um dia? tudo se desmancha em nada?
Certamente não. Tudo se transforma, mas afetado pelas nossas decisões. É como virar na esquina errada, fazer uma conversão antes da hora, ou tarde demais.
Lembre-se sempre de pegar o retorno. Enquanto o carro da sua vida transitar pelas estradas do Samsara, use o GPS do bom senso e da espiritualidade para seguir o caminho correto, o Dharma.
E leve na bagagem só o que for bom. Porque se ficar pesado demais com seus apegos, você não sai do lugar.


ouvindo Jack Johnson - Wrong Turn

sábado, 27 de março de 2010

Eyes 御目


Os despertos não nasceram assim.
Também tiveram seus olhos cerrados um dia. Todos somos despertos com os olhos por abrir, uns semicerrados, outros ainda no sono do Samsara... mas todos destinados à mesma luz.
Certa vez ouvi uma história, assim como as histórias das tantas tradições budistas, que fala exatamente sobre isso.
O Mestre segurava em sua mão uma flor de lótus, e ao seu redor estavam três discípulos. Perguntou a eles:
-O que eu tenho na mão?
O primeiro contou uma fábula, um verdadeiro épico, envolvendo a origem da flor.
O segundo deu uma descrição um tanto quanto detalhada da mesma.
O terceiro responde:
-É uma flor de lótus, Mestre, simples e bela como tudo que Deus criou.
Buddha sorri e lhe diz:
-Você foi o único que enxergou o que eu tinha na mão.

As coisas são simples. São Belas. Conhece-se o Criador por sua obra, e aquele que tem os olhos abertos por ver com olhos de enxergar e ouvir com ouvidos de escutar.

Ouvindo Yantra Mantra - Mangalacharana(Buddha Lounge)

sexta-feira, 19 de março de 2010

Rebirth 生変


"Só existem dois dias do ano em que não se pode fazer nada: ontem e amanhã."
Sua santidade, o Dalai Lama