sábado, 22 de maio de 2010

Bushido 武士道 - O que aprendi com "O Último Samurai"

"The perfect blossom is a rare thing. You could spend your life looking
for one, and it would not be a wasted life." Katsumoto-dono, in "The Last Samurai".

"A flor perfeita é uma coisa rara. Você poderia passar sua vida inteira procurando por uma, e não seria uma vida desperdiçada." Katsumoto-dono, in "O Último Samurai"


Demorei muito tempo para compreender essas palavras em sua plenitude.

"O Último Samurai", embora seja uma visão romântica dos Samurais(estes, pela história "oficial", eram inimigos da modernização do Japão do século XIX), é um filme tocante, feito com muito cuidado e reverência. Em um mundo hollywoodiano que prega os valores ocidentais, ele ousa resgatar a nobreza, orgulho e disciplina dos japoneses. E isso é algo inspirador.
Mostra como um homem pode errar a vida inteira, e ter uma chance de recuperar sua honra. Depurar-se, melhorar-se, desapegar-se e lutar por aquilo que vale a pena de verdade.
A palavra "samurai", de acordo com o filme e com as histórias que já li, significa "servir". Isto não se limita à servir ao Imperador ou à nação japonesa. É uma reverência profunda pela vida e pela natureza(talvez em parte advinda do Xintoísmo), vendo em tudo uma oportunidade de aprender.
Seguiam um código de conduta rígido e profundamente espiritual, o Bushido(influenciado pelo Budismo, Xintoísmo e Confucionismo).
Mas o que é exatamente o Bushido? O que é viver cada momento aceitando a morte, por exemplo? Por que um samurai não faz promessas? Por que motivo é tão desapegado e ao mesmo tempo orgulhoso?
Por muito tempo eu me perguntei tudo isso. E mesmo quando vi este filme no cinema, não estava pronto para entender essas questões. E talvez não esteja, se quiser senti-las profundamente na alma, afinal, sabedoria vem somente com o tempo e para aqueles que estão ocupados demais para buscá-la.
Tentarei responder em parte com as sete virtudes do Bushido:

GI (em japonês: 義) - Justiça e Moralidade, Atitude direta, razão correta, decidir sem hesitar;
YUU (em japonês: 勇) - Coragem, Bravura heróica.
JIN (em japonês: 仁) - Compaixão, Benevolência.
REI (em japonês: 礼) - Polidez e Cortesia, Amabilidade.
MAKOTO (em japonês: 誠) - Sinceridade, Veracidade total.
MEIYO (em japonês: 誉) - Honra, Glória;
CHUU (em japonês: 忠) - Dever e Lealdade.

Um samurai vive a cada momento aceitando a morte porque é corajoso e sabe que pode ser o seu último. Somente quem está pronto para morrer está pronto para viver. Dessa maneira, age com compaixão e benevolência, polidez, cortesia e amabilidade, porque sabe que pode não ter outra chance de tratar bem as pessoas ao seu redor.
Um samurai não faz promessas porque reconhece seu dever e é leal a ele. Ele não precisa dar garantias de sua palavra, pois pesa suas ações e é responsável por elas - portanto tudo o que fala tem valor de promessa.
É verdadeiro, pois a mentira o desviaria de seu caminho de retidão, distorceria sua palavra, coloca em dúvida sua honra.
Sendo um guerreiro que tem muito a defender, tem de ser justo, racional e direto, pois muita coisa depende de suas ações - pelas quais, repito, é plenamente responsável.
Não é um caminho fácil. É um caminho de retidão e auto sacrifício. É reverenciar a vida e servi-la. É procurar fazer tudo com a máxima perfeição. Aos 26 anos talvez eu compreenda uma pequena parcela do que ele seja, o admire e julgue correto, me esforçando por segui-lo da melhor maneira possível de acordo com meu estágio evolutivo.
O que posso fazer, então, é fechar este post refletindo justamente sobre isso, com uma citação do maior samurai da história do Japão, Miyamoto Musashi:

"Os homens devem moldar seu caminho. A partir do momento em que você vir o caminho em tudo o que fizer, você se tornará o caminho."
Miyamoto Musashi, in "O Livro dos Cinco Anéis"





Ouvindo Hans Zimmer - A Way of life(Last Samurai Original Soundtrack)

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Essence 精髄(せいずい )


Quando a maior das nobrezas de um homem torna-se sua ruína,
Sua perdição, seu desgaste, seu maior pesadelo,
Podem as flores ressuscitar a glória
Deste andarilho perdido e repleto de mágoas?
Podem elas derreter como cera da vela cada pedacinho pútrido
Da essência deste homem?

Ou será que, num mundo sem glórias, não há saída senão
Manter-se numa ardente trilha de sangue,
Este guerreiro repleto de histórias, mentiras e paixões entranhadas
Em cada gota rubra e morna?

"Em um mundo onde o aço pode sobrepujar a honra,
A História é escrita pelos vitoriosos,
Estudada pelos derrotados e esquecida pelos rebeldes",
E somente ele próprio poderá trilhar seu caminho...

Pelas flores...

...ou pelo sangue.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Choices 選択肢(せんたくし )


O tempo é mesmo uma coisa curiosa.
Em uma jornada arqueológica em busca de carteados e um poncho, revi fotos, objetos antigos e empoeirados, a vida encaixotada.
Se me dissessem à alguns anos que os C., meu antigo grupos de amigos, tomaria rumos tão distintos... eu não acreditaria.
M. iria para os Estados Unidos e ficaria por lá. X. se casaria com K, se divorciaria por ter um filho com K2, ex namorada de S., que sumiria depois de tamanha traição. Y. sumiria e pararia até de ligar sempre pedindo alguma coisa. L. engravidaria. T. começaria a namorar ainda nos tempos da Lan House e hoje em dia estaria solteiro. Eu mudaria de bairro bagunçando completamente a minha vida, e me distanciando de todas essas pessoas de uma maneira ou de outra.
Deixaríamos de ir para aquela cidade no Litoral que enxugou tantas lágrimas nossas.
Se dissessem que um de meus melhores amigos, X., acabaria da maneira que está... e que F., outro dos meus melhores amigos, sumiria...
Eu não acreditaria em tudo isso. Mas também não acreditaria que iria encontrar a felicidade nos braços daquela por quem eu torcia o pescoço na faculdade que eu achava que iria terminar, antes de todas aquelas decisões complicadas e escolhas erradas que fiz na vida. Mas do lodo nasce a Lótus, não é mesmo?
Acho que todos fazemos escolhas erradas. E elas sempre afetam aqueles à nossa volta, mas principalmente a nós mesmos. Pois somos todos interdependentes, a grande rede de Indra, a causalidade. E esse grupo ter se desmanchado mostra como é verdadeiro o princípio da impermanência. Tudo o que existe está sujeito à transformação.
Seria triste, então, esse princípio? Vou deixar as pessoas queridas um dia? tudo se desmancha em nada?
Certamente não. Tudo se transforma, mas afetado pelas nossas decisões. É como virar na esquina errada, fazer uma conversão antes da hora, ou tarde demais.
Lembre-se sempre de pegar o retorno. Enquanto o carro da sua vida transitar pelas estradas do Samsara, use o GPS do bom senso e da espiritualidade para seguir o caminho correto, o Dharma.
E leve na bagagem só o que for bom. Porque se ficar pesado demais com seus apegos, você não sai do lugar.


ouvindo Jack Johnson - Wrong Turn