sábado, 7 de agosto de 2010

Impermanence 無常


Como uma onda no Mar(Zen-surfismo)

Nada do que foi será
De novo do jeito que já foi um dia
Tudo passa
Tudo sempre passará

A vida vem em ondas
Como um mar
Num indo e vindo infinito

Tudo que se vê não é
Igual ao que a gente
Viu há um segundo
Tudo muda o tempo todo
No mundo

Não adianta fugir
Nem mentir
Pra si mesmo agora
Há tanta vida lá fora
Aqui dentro sempre
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar

Nada do que foi será
De novo do jeito
Que já foi um dia
Tudo passa
Tudo sempre passará

A vida vem em ondas
Como um mar
Num indo e vindo infinito

Tudo que se vê não é
Igual ao que a gente
Viu há um segundo
Tudo muda o tempo todo
No mundo

Não adianta fugir
Nem mentir pra si mesmo agora
Há tanta vida lá fora
Aqui dentro sempre

Como uma onda no mar.


Tudo aquilo que existe está sujeito à transformação. Você, caro leitor, já não é a mesma pessoa que começou a ler este post.
A Natureza nos dá o exemplo. Da teoria da evolução aos seus mínimos ciclos, como a crisálida se tornando uma bela borboleta, a água em seu curso da nascente pelo rio até o mar, as quatro estações do ano... tudo ao nosso redor está em constante transformação, regeneração, mudança; e nada que possamos fazer é capaz de mudar este processo.



A mudança é benéfica, produtiva. Sem ela não haveria vida, não haveria evolução em todo e qualquer campo - principalmente o espiritual.
Seguir o Caminho e empenhar-se em ser o Caminho. Em aceitar a impermanência, ser a mudança. Tentar ir contra esse fluxo natural das coisas é sofrer. É permanecer no Samsara por manter seus olhos cerrados, sem querer abri-los para a realidade ao nosso redor. Não é fácil mudar, mas é possível. Fechar-se em sua concha, sua zona de conforto, seu mundinho exato... não adianta. Sei que falar é fácil, mas eu mesmo me empenho em me adaptar às mudanças - e pela minha própria experiência eu digo, se eu tentasse ir contra elas, teria sofrido, inconstante que foram meus passos na vida até hoje.
Mudanças podem causar dor, e normalmente causam. Mas se a dor é inevitável, sofrimento é opcional; repito, lutar contra mudanças é querer parar o movimento da vida com as mãos nuas. A mutabilidade do Universo é muito maior do que nós.
E a beleza da vida é justamente essa alternância. Passamos a dar muito mais valor às coisas quando aceitamos que elas mudam - você não olharia uma paisagem com mais apreço ao saber que ela é passageira?



Namaste


Ouvindo Lulu Santos e Caetano Veloso - Como uma onda no mar

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A chuva, a Lua e os pássaros 雨と氷輪と鳥類


Para Holmes

Poucas coisas nessa vida me acalmam os ânimos mais do que o som da chuva - e até mesmo sentir as gotas em minha face em uma tarde primaveril. Nossa cultura cotidiana amaldiçoa aquilo que é uma bênção da natureza - limpa o ar, renova o solo, desgasta a pedra, altera o relevo - a tal da impermanência. Quem não gosta do som da chuva para dormir? Estimula-me a preguiça até, mas porque seja esse meu vício, e não por ser algo ruim!
E a Lua... quantos poetas e outros artífices deste Mundo não foram inspirados por ela? Não vou aqui transgredir os limites da literatura explicando cientificamente o que ela é. Sei que fascina povos nativos, e não à toa eles lhe atribuíram significados mágicos, místicos, sagrados. Acredito que cada um que ler estas minhas palavras vai sentir de maneira diferente o que a Lua significa para si mesmo. Ela é daqueles objetos do imaginário muito particular de cada um. Mas não conheci, nesses meus 26 anos, alguém que não gostasse dela.
Pássaros... outro assunto recorrente na literatura. Na cultura japonesa, que particularmente aprecio, são respeitados e amplamente cultuados. Aparecem em diversas histórias... e quem nunca fez uma cegonha de Origami?
A mim, passam a sensação de liberdade. O vento tocando a face, o céu por amplo caminho a se desdobrar diante dos olhos... a humanidade sonha com essa liberdade desde o mito de Ícaro. Duvido que você, leitor, nunca tenha sonhado por um momento que seja com a habilidade de voar.
"O vulgo não vê o óbvio". Por isso a humanidade procura a felicidade e a beleza em feitos grandiosos, quando ela pode estar nas coisas mais simples.
Dei 3 exemplos de coisas para se apreciar, e há os que dirão que sou tendencioso por ser ambientalista convicto. Mas existem muitas coisas mais belas para se ver. Se souber de mais alguma, compartilhe aqui! Será muito bem vindo, sem sombra de dúvida!

Namaste!

Ouvindo Gonnie Louie Elements - Water and the Rain

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Of the kind-hearted ones 惇厚 (とんこう)

Blog completamente remodelado, fazendo jus ao princípio da impermanência de que falava o mestre. Daqui em diante, não só contos, mas fatos do dia-a-dia com alguma reflexão. Dêem seus pitacos, critiquem, comentem! Será um prazer dividir com vocês o caminho.
ॐNamasteॐ


Em uma de minhas andanças até o local onde estudo, me deparei com uma cena - no mínimo - comovente. Eis aqui o meu relato sobre o que é a simplicidade do amor entre pais, filhos, irmãos. E de como não devemos julgar pela aparência e/ou cultura.
Era um casal simples, daqueles que não saltariam aos olhos na multidão.
Ela, o cabelo loiro pintado com tintura barata. Fora de forma pela falta de cuidado após ter dois filhos, talvez. Talvez por falta de dinheiro, de tempo, de conhecimento.
Ele, tatuagem no antebraço, camisa de time, um boné surrado.
Nos dois rostos, um só sorriso. Aconchegados confortavelmente em seus braços, brincando - os filhos.
Duas crianças gargalhavam enquanto o trem seguia viagem. A menina, pouco mais de um ano, cambaleava com o sacolejar característico do vagão. O menino, um pouco mais velho, era mais ágil. Brincavam.
Trocaram de colo algumas vezes, ora ela no colo da mãe, ora ele também - e o pai sempre segurava com carinho um dos dois.
Súbito, a pequenina sem querer machuca o irmão com o brinquedo que levava na mão.

Aqui faço uma pausa.

Naquele lugar simples, de gente com pouca Educação, péssimas condições e supostamente aquele humor de quem vive no sofrimento, você esperaria berros, violência, choro esbaforido, incontido... pois é, não julgue.



A menina, tímida, vê que machucou o irmãozinho. Mas ela não sabe falar ainda.
A mãe, com ternura, faz as vezes da sua voz, dizendo "Me desculpa... é que eu sou desajeitada."
O menino, ainda massageando com a mão tão pequena o corpo dolorido, de repente deixa de lado o que aconteceu e abraça longamente a irmã.
Naquele perdão silencioso, um gesto simplório... havia muito mais do que um pedido de desculpas. Havia o amor entre dois irmãos que se comunicavam à maneira das crianças, muitas vezes mais eloqüentes do que nós, que nos esquecemos talvez da pureza que carregávamos nessa época em nosso semblante.
Os pais? Serenos, avisaram que havia chegado a hora de descer. O pai pega a menina no colo, o menino espera pacientemente a mãe arrumar a bolsa e guardar o brinquedo da menina, e só então estende os braços para abraçá-la e saírem do trem.
Sorri, maravilhado. E fui abençoado com uma dádiva rara: aquele ser que mal andava e mal falava, me sorriu de volta e disse tudo. Seu pai, orgulhoso, diz: "Dá tchau pro moço, filha".
E ela acena, saindo do trem segura pelos braços do pai, até me perder de vista.

Nem sempre títulos, anos de estudo e conforto financeiro significam amor, paz, prosperidade. Aquele casal tão pobre, de uma região afastada da cidade de São Paulo, me ensinou que o amor entre pais e filhos, entre irmãos, e a educação adquirida durante a criação são independentes do quanto se ganhe, do quanto se estude, de que música se ouça, de quantas vezes você já viajou para fora do país ou algo do gênero. Vivemos em um Mundo onde esqueceu-se da busca da sabedoria, e onde as pessoas desenvolvem seu intelecto, o que sem dúvida é importante; mas se esquecem de que inteligência sem sabedoria é arrogância. O amor daqueles pais e a simplicidade daquelas crianças iluminou o meu dia. Aprendi mais um pouco sobre como julgar o menos possível - almejando um dia não julgar mais.